O retrato
Mario
Morais
Corria o ano de 1988, nas
lembranças da minha infância querida que os anos não trazem nunca mais, um fato me marcou
profundamente. Naquela pequena cidade, de ruas esburacadas, de luzes a
lamparina, com choupanas de chão batido, de paredes de pau-a-pique, a casa do
fotografo, no final da rua principal, parecia reluzir com mais esplendor, pois
era muito visitada.
Era manhã clara e alegre de domingo
quando meu avô me convidou para, juntos,
buscarmos sua encomenda lá na casa do senhor Durvalino, o fotógrafo.
Sempre tive curiosidade de conhecer o interior da residência daquele
fotógrafo. O momento chegara no bojo do
tempo.
Fiquei encantado com os quadros sobre
as paredes, com os porta-retratos, com os binóculos. No entanto, um quadro me
chamou mais à atenção pelo seu brilho intenso. Meu avô me disse que aquele
quadro retratando a família do fotógrafo fora pintado há muito tempo. O
fotógrafo, observando minha admiração pelo quadro, não se contendo, passou-me a
discorrer a história do retrato.
Como não havia máquina fotográfica como
esta, meu pai encomendou este quadro ao pintor de artes visuais daquela pequena
cidade onde vivia, dizia Durvalino. Enquanto isso, a minha mente divagava pelas
linhas em espiral do pincel.
O fotógrafo continuou discorrendo, com
o avanço tecnológico aos poucos a fotografia em tela foi sendo substituída pela
máquina fotográfica explosiva com imagens em preto e branco. Agora as coisas já
melhoraram, pois eu trabalho com uma máquina fotográfica mecânica, utilizando
apenas bobinas de filmes. A fotografia ficou mais viva e colorida.
Meu avô, conhecedor do tempo passado,
concordava com um sinal positivo com sua sabedoria. Na sequência, fui
surpreendido com a voz sábia e como que profética daquele velho ancião de
rupestre aparência: Num futuro próximo esta máquina mecânica será substituída
por outra mais versátil e de funções variadas.
Voltamos à casa do meu avô, a manhã
brilhava com mais fulgor, meus olhos vislumbraram o passado, o presente e o
futuro num só momento. Percebo, hoje, o cumprimento daquela voz visionária.
Naquele tempo poucos tinham acesso à máquina fotográfica, nos nossos dias,
surgiram as máquinas digitais, sem bobinas, apenas baterias e cartões de
memórias e tem se espalhado por todas as camadas da sociedade.
Os álbuns e quadros fotográficos estão
sendo substituídos pelos retratos postados nas redes sociais da web, nas
memórias dos laptops. A vida vai passando, o tempo vai mudando a forma de
registrar o presente que será passado, mas não poderá mudar a importância do
retrato.
Palmas,
30 de maio de 2012.
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